CPI que investiga culpa do Cimi em invasões de terras entra na fase final
A CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) que investiga suposta culpa do Cimi (Conselho Indigenista Missionário) nas invasões de terras produtivas em Mato Grosso do Sul entra na fase final.
Além de ontem a tarde, quando houve mais uma audiência pública, mais uma sessão deve ocorrer na quarta-feira (27).
Após a fase de oitivas, na qual os envolvidos são sabatinados pelos membros da comissão, o relator da CPI, deputado estadual Paulo Corrêa (PR) terá de apresentar o relatório final.
No entanto, o colegiado ainda não sabe se pede indiciamento de possíveis responsáveis pelas invasões, que, como conseqüência, causaram enorme prejuízo a produtores rurais e aos municípios, principalmente na região sul do Estado.
Em reuniões reservadas, os membros da CPI, que começou a funcionar em 8 de outubro, garantem ter elementos suficientes para pedir o indiciamento de pessoas ligadas ao Cimi, o que, por lei, caberá apenas o MPE-MS (Ministério Público Estadual).
Integrantes da comissão apontam o depoimento dos proprietários da fazenda Buriti, no município de Sidrolândia, Ricardo Bacha e Jucimara Bacha, como um dos elementos importantes para o fechamento do relatório.
O casal comprovou, por meio de vídeos e documentos, a presença do Cimi em invasões na região. Os dois foram ouvidos no dia 20 de outubro pela CPI que investiga se o órgão é culpado por incitar e financiar invasões de propriedades particulares no Estado.
O vídeo exibido durante a sessão mostra imagens de um fotógrafo e do coordenador regional do Cimi em Mato Grosso do Sul, Flávio Vicente Machado, durante invasão da fazenda Buriti, em 2003. Em outro vídeo, gravado em 2012, Flávio admite que o papel principal do órgão é a “recuperação territorial e luta pela terra”.
Ricardo Bacha também entregou aos membros da CPI um documento, encontrado em 2009 na propriedade de seu tio, Munir Bacha, que também foi invadida por indígenas. Trata-se de uma ata, onde consta o nome de dois membros do Cimi: Rogério Batalha Egon Heck.
SILÊNCIO
Em recente oitiva, o secretário executivo do Cimi, Cléber Buzatto, se esquivou da maioria das perguntas dos parlamentares integrantes da CPI.
Questionado sobre seu posicionamento e do próprio Cimi acerca das invasões, Buzatto disse que preferia não fazer juízo de valor sobre o tema. Ele garantiu que essa é uma iniciativa dos povos indígenas.
Durante depoimento no último dia 13, o presidente nacional do Cimi, Dom Roque Paloschi, afirmou que a instituição se envergonha da ação de alguns membros de Mato Grosso do Sul que foram flagrados envolvidos em situações de incitação a invasões de propriedades particulares no Estado.
Durante o depoimento, ele foi questionado sobre o conteúdo de um notebook do jornalista Rui Sposatti, que foi confiscado pela Polícia Federal em 2013 durante a reintegração de posse na fazenda Buriti.
No computador, foi encontrado um arquivo cujo conteúdo ensinava confeccionar armas artesanais, minas terrestres, gás lacrimogêneo com produtos de limpeza, além de como realizar fraudes bancárias.
Também foi apreendido com o jornalista do Cimi um gravador com o áudio de uma reunião entre indígenas e integrantes do conselho, onde os índios eram parabenizados e incentivados a continuar resistindo no território invadido.
“Essa ação não nos alegra, nos envergonha, mas infelizmente não temos controle do que as pessoas que trabalham conosco carregam em seus laptops, tablets e celulares”, afirmou Dom Roque.
No entanto, o presidente do Cimi foi evasivo ao ser questionado sobre o livro ata encontrado em 2009 na fazenda Boa Esperança, em Sidrolândia, cujo conteúdo sugere que os índios da região estavam de posse de armamento pesado.
O documento também aponta a participação de dois membros do Cimi em reuniões onde a invasão de fazendas era estimulada: Flávio Machado, coordenador regional do conselho, e “Doutor Rogério”, que induz ao nome do advogado Rogério Batalha.