Cultura indígena em quatro atos

Postado por: antonio.urquiza
Malaj12398

Irineu Nje’a, ontem à tarde, no JC: evento

Em trecho final da música “Um Índio”, Caetano Veloso canta, convicto: “Aquilo que nesse momento se revelará aos povos / Surpreenderá a todos não por ser exótico…”

É justamente o sonho de uma sociedade menos interessada no exótico e mais focada no conteúdo que um evento inédito na cidade é desenvolvido de hoje a sexta-feira, a partir das 8h30, na Estação Ferroviária de Bauru. A realização é da Associação Renascer o Apoio à Cultura Indígena (Araci) – fundada no ano passado. Entrada é gratuita.

Sem nome específico, mas inspirado no projeto “Agosto Indígena” da capital paulista, o evento local conta com quatro dias de dança e artesanato frutos do trabalho de grupos da reserva de Araribá em Avaí (guaranis e terenas).

“Queremos contribuir para minimizar cinco séculos de preconceitos”, resume o presidente da Araci, Irineu Sebastião, 40 anos.

Ele, que também adota o nome de Irineu Nje’a (que significa “meu filho” na etnia terena) acredita que, aos poucos, uma nova geração poderá crescer com “um pensamento diferente” em relação aos povos indígenas.

“Hoje, ainda, a gente fala que é indígena e algumas portas se fecham”, relata.

“Com a difusão da rica cultura indígena e de sua verdadeira trajetória, isso pode ir mudando”.

Irineu – cujo pai, Cassiano, vive até hoje na Aldeia Kopenoti, em Araribá, uma das quatro do local – tem formação em história e especialização em antropologia.
Ele ressalta que o evento é resultado de trabalho em equipe e objetiva jogar luz numa data específica: Dia Internacional dos Povos Indígenas (9/8).  “Costuma-se lembrar do 19 de abril, Dia do Índio, mas precisamos entender que a relevância dos povos vai além disso e é para o mundo todo”.

 

Colar da Natureza

Um exemplo de síntese da “filosofia indígena” está todos os dias no pescoço de Irineu Nje’a. Trata-se de um colar, por ele confeccionado, de macaúba com sementes de flamboyant, Lágrima de Nossa Senhora, Açaí e Pau Brasil (este, da aldeia Limão Verde de Aquidauana, Mato Grosso do Sul). “Uma vez, meu pai disse: ‘Um índio não usa artesanato só porque é bonito. Usa porque é proteção. E protege porque é da natureza, tem esse poder, inclusive contra o mau espiritual”, diz o terena.

 

Foto e cinema
Em setembro, a estação ferroviária (recém tornada polo cultural) deve recebe exposição fotográfica com o trabalho de Aline Maffi. “Ela esteve em Araribá, fez várias fotos e o material renderá essa mostra mês que vem”. Já em São Paulo, capital, até quarta-feira, segue o projeto “Agosto Indígena” com mostra de cinema no Cine Olindo.  O endereço é Avenida São João, 473. Telefone: (11) 3331-8399.

 

Fonte: http://www.jcnet.com.br/Cultura/2015/08/cultura-indigena-em-quatro-atos.html