Indígenas denunciam incêndio a centro cultural de aldeia na Bahia
Barraca em aldeia indígena foi incendiada no extremo-sul da Bahia (Foto: Funai)
Pataxós da Aldeia Cahy, que fica no Território Comexatiba, no distrito de Cumuruxatiba, que pertence à cidade de Prado, extremo-sul da Bahia, denunciaram o incêndio de uma barraca, que funcionava como centro cultural e loja de artesanato, após a área ter sido invadida por seis homens em três motos. O local guardava roupas, ferramentas, instrumentos musicais e outros adereços indígena, de uso dos moradores da comunidade, segundo informações da Fundação Nacional do Índio (Funai).
O caso ocorreu na segunda-feira (10) e foi alvo de nota de denúcia da Associação Nacional de Ação Indigenista (Anai), divulgada nesta quarta-feira (12). Um técnico da Funal foi enviado e, segundo o órgão, encontrou a comunidade abalada, com mulheres e crianças chorando. A Funai informou, ainda, que duas diligências policiais foram feitas no local – uma da delegacia, que levantou informações -, e outra da Polícia Militar. “A comunidade continua apreensiva e reitera às autoridades os pedidos de maior presença na região, apuração dos responsáveis e punição aos culpados”, informou. O G1 não conseguiu contato com a delegacia de Mucuri, que seria responsável pela situação.
Ricardo Oliveira Azevedo, conhecido como Xawã, informou que dorme no local com a esposa e a filha de 2 anos. De acordo com ele, o prejuízo chega aos R$ 20 mil. “Nós fomos surpreendido por três motos com duas pessoas em cada uma, por volta da meia-noite e meia. Nós não estávamos e a barraca ficou trancada. Eles jogaram gasolina e atearam fogo. Viram a barraca queimar e depois saíram dando tiros pela avenida que corta a aldeia”, disse.
Segundo Azevedo, o local foi novamente atacado na noite de terça (11) e as famílias estão abrigadas na Escola Quije Exawê Zabelê, localizado no território, ou em casa de parentes. “Voltaram ontem e tentaram atear fogo em outras casas. Fomos para cima. Eles estavam em um carro e em duas motos. Todo mundo aqui está assustado”, disse.
Ele contou ainda que, atualmente, 75 famílias de indígenas vivem no local, considerada área de retomada. “Tem três anos que nós ocupamos de novo. Era do meu avô. Aqui têm pessoas contra e a favor da causa indígena. Sempre tem fazendeiro que é a favor de nós e tem uns que não arredam o pé, mesmo sabendo que o território estava em estudo desde 2000, eles construíram casas. Tem pessoas que não são indígena e que moram no território. Mas não queremos gerar conflito. Mesmo eles tocando fogo em nossa oca, não queremos violência”.
De acordo com a Anai, a identificação e a delimitação da Terra Indígena Comexatiba foram aprovadas pela Fundação Nacional do Índio (Funai) em despacho publicado no Diário Oficial da União no dia 27 de junho deste ano. A Funai explicou que a delimitação é reconhecimento sobre a ocupação tradicional indígena de uma terra após conclusão dos trabalhos realizados por um grupo de estudos. No caso da Comexatibá, se chamada Cahy-Pequi, ela tem mais de 28 mil hectares.