Após evento, índios dizem que foram expulsos de ônibus por preconceito
Um grupo de indígenas da etnia Kayapó denuncia que sofreu preconceito por parte de uma passageira e foi expulso de um ônibus interestadual após um evento em Alto Paraíso de Goiás, no norte do estado. Eles estavam voltando para a aldeia onde vivem, em Tucumã, interior do Pará, quando uma usuária do veículo disse que não queria nenhum deles sentando ao seu lado. “Ficamos muito chateados. Foi um preconceito”, disse o índio Benjamin Kayapó, que estava dentro do veículo.
O caso ocorreu no último domingo (26), quando os indígenas regressavam do Encontro de Culturas Tradicionais da Chapada dos Veadeiros, evento que reúne diversos grupos indígenas em São Jorge, distrito de Alto Paraíso de Goiás. Ao todo, 18 indígenas viajavam no ônibus da empresa Real Maia. Destes, 14 estavam na parte de cima de veículo e quatro, embaixo.
Ainda segundo o índio, que estava na parte de cima do veículo, o motorista tentou argumentar com a passageira, falando que o grupo tinha passagens compradas e, portanto tinham direito de ficar nos assentos. Outros passageiros também falaram que os Kayapó não deveriam ser retirados do veículo, mas nada disso adiantou.
“O motorista pediu para os quatro índios, dois homens e duas mulheres, que estavam embaixo descerem e esperar por outro ônibus que passaria. Estava de noite e não passou nenhum outro ônibus”, lembra Benjamin. Além deles, três crianças foram retirados do veículo. Outros dois casais que estavam na parte de cima do veículo se solidarizaram e também desceram para acompanhar as vítimas de preconceito. O restante do grupo seguiu viagem.
A coordenadora de comunicação do Encontro de Culturas, Marelly Batista, disse que os indígenas que foram expulsos do ônibus não conseguiram nem mesmo pegar suas bagagens e só conseguiram contato com os organizadores do evento horas depois. “Assim que ficamos sabendo, fomos buscá-los na rodovia e trouxemos para São Jorge novamente até que conseguíssemos resolver a situação”, explicou.
Segundo Marelly, todos os indígenas tinham passagens, que foram compradas pelo evento. O grupo registrou um Boletim de Ocorrência na polícia, denunciando o crime. Depois que foram tomadas as providências legais, a coordenadora de comunicação disse que novas passagens foram adquiridas já na segunda-feira (27) e que os índios Kayapó conseguiram voltar para a aldeia.
Por telefone, o gerente comercial e administrativo da Real Maia, Francisco Paulo Miguel Filho, explicou que não houve preconceito em momento algum com os indígenas. Além disso, eles não foram deixados no meio da rodovia.
O representante da empresa esclareceu que alguns índios nem chegaram a embarcar no ônibus por questões legais. “O que aconteceu é que foram compradas 18 passagens. Só que alguns deles estavam com crianças acima de 6 anos e sem passagens. E, por lei, só é permitido a gratuidade pra crianças até 6 anos incompletos”, explicou ao G1.
O gerente relatou ainda que o motorista tentou conversar com os demais passageiros para que as crianças fossem embarcadas, mesmo sem estarem com os bilhetes. Entretanto, eles não aceitaram. “Eles compraram as passagens e se sentiram desconfortáveis com uma mãe e dois ou três filhos na mesma poltrona, o que é proibido por lei, e reclamaram da situação. Com isso, o motorista devolveu a passagem a aqueles que estavam com crianças sem os bilhetes”, completou.